Em 2016, no Brasil, 58,3 milhões de pessoas tiveram o nome incluído em cadastros de restrição de crédito. Mas, será que esse número estrondoso é um reflexo somente da crise? O que fazer para se livrar das dívidas em atraso?
Adote três medidas eficientes para começar a organizar as suas finanças e sair do “vermelho”.
1 – Adapte os gastos à renda
As dívidas em atraso surgem normalmente quando os gastos superam a renda e o dinheiro guardado ou quando há imprevistos. É o que se chama, em ordem, de superendividamento ativo e passivo.
É uma medida óbvia, mas muitos se esquecem: gaste menos do que ganha e poupe para emergências. Para adotá-la, faça um orçamento mensal. Considere, inicialmente, os gastos fixos, como aluguel, energia elétrica, alimentação e mensalidades. Depois, defina quais são as demais prioridades.
Os gastos continuam acima da receita ou não sobrou muito para fechar a conta? Entenda que a mudança deve ser radical nesse momento. Por isso, refaça os cálculos. A princípio, mantenha exclusivamente os gastos necessários para sobreviver até quitar as dívidas atrasadas, como abaixo:
Data | Descrição | Valor (R$) |
06/01 | Salário líquido | + 2.500,00 |
06/01 | Cartão de crédito (valor mínimo) | – 350,00 |
06/01 | Cheque especial (juros e IOF) | – 120,00 |
06/01 | Empréstimo | – 280,00 |
09/01 | Aluguel | – 1.200,00 |
12/01 | Gás | – 30,00 |
12/01 | Energia elétrica | – 70,00 |
15/01 | Supermercado | |
23/01 | Telefone/Internet |
O ideal é que uma boa fatia da renda sobre para que seja redirecionada ao pagamento das dívidas em geral. No exemplo acima, observa-se que o orçamento de janeiro estava deficitário em R$ 500,00. Além disso, houve o uso de limite do cheque especial e o pagamento mínimo da fatura do cartão. No entanto, no próximo mês, já sobrará a quantia de R$ 200,00 para amortizar as dívidas.
Se for preciso, adie os planos para viajar no feriado e não vá a restaurantes. Considere também acabar com parte dos gastos fixos, como o plano de dados do celular e a televisão a cabo. Em último caso, pense ainda em se desfazer de bens desnecessários, como os gadgets.
Como fazer o orçamento doméstico?
Precisa de uma planilha para elaborar o orçamento? O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – Idec disponibiliza gratuitamente uma planilha de orçamento doméstico em sua página. Mas, se não estiver acostumado a usar planilhas, faça as contas em um caderno mesmo.
2 – Inventarie e classifique todas as dívidas
Depois de equilibrar as contas, é a hora de dimensionar todas as dívidas. É comum que o superendividado não saiba muitas informações sobre a dívida que possui.
A falta de informação é, aliás, uma das causas do superendividamento. Por isso, nos últimos anos, mesmo quando não houve crise, o número de negativados no Brasil se manteve alto.
Portanto, elenque todas as dívidas, e preencha ao lado de cada uma os juros (de preferência, o custo efetivo total) e o saldo remanescente para pagar (os valores são aproximados):
Cartão de crédito | 15% a.m. | R$ 3.500,00 |
Cheque especial | 12% a.m. | R$ 1.000,00 |
Empréstimo | 3% a.m. | R$ 5.300,00 |
Clube (mensalidade) | 2% a.m. | R$ 200,00 |
Na tabela, nota-se que a dívida total é de aproximadamente R$ 10.000,00. No mesmo exemplo, percebe-se também que o endividado está com o nome negativado, em razão das dívidas com o clube.
3 – Faça uma renegociação das dívidas
Na hipótese apresentada, o devedor poderá utilizar a margem que sobrou de R$ 200,00 no orçamento para quitar as dívidas com o clube e “limpar” o nome.
Mas, como lidar com as dívidas bancárias?
Ao crédito se aplica perfeitamente a seguinte frase célebre: “a diferença entre o remédio e o veneno é a dose”.
Para superar as dívidas em atraso, além de usar a dose certa de crédito, é importante que o devedor substitua as dívidas com juros mais altos por linhas com juros mais baixos.
Em 2016, os juros do rotativo do cartão de crédito foram de 484,6% ao ano. Porém, a partir de agora, não será mais permitido utilizá-lo por mais de 30 dias, diante da Resolução CMN nº 4.549, de 2017. Ainda assim, há também os juros do cheque especial, que são igualmente altos.
Dessa forma, vá o banco e parcele tanto o saldo remanescente do crédito rotativo do cartão, quanto o limite do cheque especial. Se o custo efetivo total da renegociação for mais baixo do que o do empréstimo, faça uma operação englobando todas as dívidas bancárias. Lembre-se que os juros dos empréstimos costumam ser menores quando o número de parcelas é menor. Então, conforme a possibilidade do seu orçamento, faça uma renegociação com o menor número possível de parcelas.
E depois que liquidar todas as dívidas? Poupe!
Não se esqueça: controlar os gastos é um exercício periódico. Após quitar todas as dívidas, tente manter o mesmo patamar de gastos. Em vez de gastar tudo o que ganha, procure poupar uma parte do salário para ter tranquilidade, lidar com imprevistos ou aumentar o patrimônio.