Nos últimos meses, o alerta de bolha no mercado de criptomoedas se acendeu.
Após atingir o apogeu há um mês, a cotação de criptomoedas como o Bitcoin chegou a cair aproximadamente 50%.
A bolha das empresas ponto.com
A bolha ponto.com foi uma das últimas grandes bolhas estouradas no mercado financeiro.
O uso comercial da Internet desenvolveu na década de 1990 um novo modelo de comércio e produção de riquezas, o comércio eletrônico.
Por isso, muitas empresas surgiram para explorar a nova economia e as novíssimas necessidades sociais. Várias companhias tradicionais também decidiram se dedicar aos negócios eletrônicos e da informação.
E não tardou muito para que sobretudo as companhias recém-criadas realizassem uma série de ofertas públicas iniciais nas bolsas de valores.
Dessa maneira, entre 1996 e 2000, o mercado apostou em todas as ações ponto.com, indiscriminadamente.
Por causa da euforia dos investidores, o índice Nasdaq atingiu 5.132 pontos em março de 2000. Mas, em março de 2001, caiu 60%.
Estima-se que o estouro da bolha ponto.com fez desaparecer 4,6 trilhões de dólares em riqueza nominal.

Pouco depois, diversas empresas ponto.com pediram falência ou foram incorporadas a outras.
As criptomoedas
As criptomoedas, como o Bitcoin, são – ou se propõem a ser – moedas eletrônicas, peer-to-peer. Ou seja, funcionam de ponto a ponto, sem a intervenção de autoridades monetárias e instituições financeiras.
Uma parte das criptomoedas utilizam os chamados “mineradores”, responsáveis por validar as transações. O trabalho voluntário dos mineradores é remunerado com a própria criptomoeda.
Em 2017, com o boom do Bitcoin, a primeira criptomoeda, foram lançadas inúmeras ofertas iniciais de criptomoedas alternativas (ou “ICO”, do inglês Initial Coin Offering).
Assim, além do Bitcoin, existem hoje pelo menos outras 1.300 criptomoedas. E esse número não para de crescer.
A criação do Bitcoin é atribuída a Satoshi Nakamoto, um pseudônimo de alguém ou de um grupo de pessoas.
O Bitcoin ilustra bem a ascensão das criptomoedas. Partiu do zero em 2009, quando foi “minerado” pela primeira vez por “Satoshi Nakamoto”, e chegou a valer US$ 19.202,80 em dezembro do ano passado.
Embora não seja possível ainda rotular a recente ascensão das criptomoedas como uma bolha especulativa, a comparação é inevitável. Veja então sete razões para a comparação:
1. Tecnologia da informação
O investimento em ações ponto.com e em criptomoedas é uma aposta direta em novas tecnologias da informação.
A tecnologia da informação não é histeria ou tolice, ao contrário da tulipomania nos Países Baixos do século XVII.
Apple e Microsoft são empresas sólidas, lucrativas e autênticas empresas ponto.com.
Apenas a Apple possui um valor de mercado maior do que todas as companhias listadas na bolsa de valores do Brasil. A Google é a segunda empresa com o maior valor de mercado do mundo, atrás da Apple.
Portanto, as criptomoedas seguem a cultura da Internet. Carecem de regulação, são descentralizadas, digitais e, paradoxalmente, prezam pela privacidade.
2. Alto risco
Tanto as empresas ponto.com quanto as criptomoedas apresentam inovação de alto risco. Vale dizer, os negócios das empresas de tecnologia da informação e as criptomoedas rompem com modelos tradicionais.
As empresas ponto.com vão de encontro aos estabelecimentos físicos, por exemplo, até então um dos bens imateriais mais importantes do comércio.
Já as criptomoedas desafiam até as instituições financeiras, como agentes de intermediação, e a própria soberania dos Estados, que detém o monopólio para emissão de moeda.
Naturalmente, o alto risco inovativo reflete um alto risco de investimento.
3. Rico da noite para o dia
Ações ponto.com e criptomoedas ofereceram a oportunidade de enriquecer os investidores de forma quase que instantânea.
Contudo o mercado que dá é o mesmo que tira. Muitos investidores não respeitam o movimento do mercado e aproveitam as quedas para aumentar a exposição, mesmo persistindo a tendência baixista.
É preciso compreender que o mercado acerta mais do que erra.
4. “Ajuste dos preços”
Há quem se recusa a concordar que o crash de março de 2001 representa o estouro de uma bolha.
Por ora, já há quem trata também as quedas do Bitcoin e do Ethereum como um ajuste natural dos preços.
5. Bolha com grandes players
Grandes investidores institucionais foram responsáveis pela maior parte da escalada vertical das ações ponto.com, porque os juros baixos à época catalisaram enormes movimentos especulativos no mercado de ações.
É verdade que não se sabe quem exatamente está comprando e vendendo criptomoedas, em razão do anonimato do mercado. Todavia não há dúvida de que grandes investidores estão nesse mercado – e que existe especulação.
Os irmãos Winklevoss anunciaram em dezembro de 2017 que se tornaram os primeiros bilionários do Bitcoin. Os “gêmeos do Facebook” criaram a própria bolsa de Bitcoin, a Gemini Exchange.
6. Instabilidade política americana
Em 2000, na véspera do estouro da bolha ponto.com, ocorreu uma imensa instabilidade política nos Estados Unidos.
George W. Bush ganhou as eleições de forma acirrada, com a recontagem dos votos do Colégio Eleitoral da Flórida. Além disso, o vencedor não ganhou no voto popular.
Uma situação bem semelhante se formou na eleição do atual presidente americano, Donald Trump. Aliás, nas duas eleições ocorreu uma troca de poder entre o Partido Democrata e o Republicano.
Não há crise financeira que não perpasse pela política americana.
7. Caminho sem volta
A nova economia é um caminho sem volta. O Nasdaq se recuperou após o estouro da bolha, e em 2017 atingiu 7.297 pontos.
É possível que as criptomoedas também se recuperem das recentes quedas.
Trata-se de uma solução financeira suficientemente inovadora, e necessária, para que continue a existir.
Pode ser que muitas criptomoedas sucumbirão até que o mercado se estabilize e se tornem de fato meios de pagamento, o que aconteceu de modo parecido no mercado de ações das empresas de alta tecnologia depois de 2001.
Enfim, certo é que dificilmente o mercado de criptomoedas deixará de existir, pelo menos até a próxima revolução tecnológica.