Accountability e “Desculpability”: qual é o seu nível?

Nunca fui um entusiasta de palestras motivacionais, mas o conceito de Accountability contém uma valiosa lição para o amadurecimento pessoal. Veja porque vale a pena entender sobre esse assunto.

Accountability Desculpability

Sem tradução em português, Accountability significa “empregar responsabilidade para si mesmo”, conforme o psicólogo João Cordeiro. E o contrário de Accountability é “Desculpability”, ou seja, em vez de se responsabilizar, colocar a culpa nos outros.

Palestras “inspiracionais”

Leandro Karnal, Mário Sergio Cortella e Clóvis de Barros Filho são professores universitários com destacadas carreiras acadêmicas. Não obstante, tornaram-se celebridades como palestrantes, tratando de temas como ética, felicidade e trabalho para o público em geral.

Sem dúvida, os três professores representam atualmente os mais famosos palestrantes “inspiracionais”, como se autointitula Clóvis de Barros Filho.

A fórmula dos palestrantes é, no entanto, bastante simples. De um lado, condensam diversas obras “maçantes” em drops, em poucas frases curtas, pausadas e impactantes. De outro lado, trechos das palestras circulam por redes sociais, onde possuem enorme influência, especialmente entre os jovens.

É uma espécie de “Nietzsche com 140 caracteres”, ou “Café com Shakespeare”. Poucas vozes críticas se levantaram contra o óbvio, a mania que tomou de assalto até mesmos os ambientes corporativos e, não raro, muitos órgãos públicos.

De fato, as palestras trazem algum desconforto e empurram muitas pessoas para refletirem sobre a realidade. Contudo, diferentemente do que supõe o público, estão consumindo nada mais do que um “xarope de milho”, porque não estão sendo munidos de instrumentos para mudar a própria realidade.

O xarope de milho é um líquido extremamente doce, mas pouco nutritivo.

Accountability e “Desculpability”

Accountability não é “xarope de milho”, embora descobri o tema através de um palestrante, João Cordeiro. Engana-se também quem imagina que seja um conceito empregado apenas no campo da Ética. Recomendo que assista ao vídeo abaixo:

Portanto, é possível aplicar Accountability em diversos campos do conhecimento. Para ilustrar, o termo pode ser interpretado no Direito, na Administração, na Política, na Contabilidade e assim por diante.

Em geral, crianças costumam dar desculpas em quase todas as situações em que se encontram. Por exemplo, quando quebram um brinquedo, transferem a responsabilidade para um amigo, com quem está brincando, ou mesmo para o próprio brinquedo. Isso é “Desculpability”, a capacidade de dar desculpas, o que é muito comum.

À medida que o indivíduo amadurece, se educa e cresce profissionalmente, as desculpas cedem espaço para a responsabilidade.

Grandes profissionais não dão desculpas, como “eu não sabia”, “a culpa não é minha”, “sempre funcionou assim”, “eu precisava”, assumem a responsabilidade e “agem como dono”, ao envidar esforços para reverter os danos.

João Cordeiro apresenta seis níveis de Accountability, extraídos de seu livro homônimo:

Nível I

Percebe e assume 10% das oportunidades de tomar a responsabilidade para si, deixando os 90% restantes para “as circunstâncias” (os pais, a escola, o chefe, o mercado).

Agem nesse nível crianças mimadas ou adultos com seríssimos problemas de convívio social.

Nível II

Percebe e assume 20% da responsabilidade.

Agem nesse nível crianças mimadas, adolescentes problemáticos, adultos imaturos ou adultos com Transtorno de Personalidade Narcisista. O transtorno é diagnosticado pelo sentimento de grandiosidade, o comportamento de não aceitar os próprios erros, culpar os outros pelos problemas e falta de empatia.

Nível III

Percebe e assume 40% da responsabilidade.

Agem nesse nível adultos comuns. Grande parte da sociedade atua dessa forma, com pequenas variações.

Nível IV

Percebe e assume 60% das responsabilidades.

As pessoas que agem nesse nível também são pessoas comuns. Profissionalmente, mostram-se motivados, talvez porque sejam novos na empresa ou na função. Também atuam nesse nível os gestores cujas empresas têm “mercado cativo”, o que lhes permite sobreviver com baixa performance.

Nível V

Percebe e assume 80% das responsabilidades.

Agem nesse nível pessoas excelentes, ou Accountables. Todos nós podemos ser assim, se o desejarmos. Agem assim também os gestores cujas empresas atuam em mercados de alta performance, lidando com fortes concorrentes.

Nível VI

Percebe e assume 100% da responsabilidade, não delegando absolutamente nada para outros.

Esse nível de atuação é praticado por quem é superAccountable e pode ser percebido em duas situações:

a) Em uma atuação saudável, em situações de necessidade extrema, em casos de vida ou morte, quando a sobrevivência está em jogo. Nesses casos, a pessoa reúne toda a sua energia e esperança para encontrar socorro, indo muito mais além da capacidade de uma pessoa comum. Essa é a principal característica entre sobreviventes de tragédias – buscar ajuda e não ficar parado;

b) Em uma atuação não-saudável, quando uma pessoa assume responsabilidades que já não deveriam ser suas. É o caso de idosos que, depois de aposentados, ainda trabalham para sustentar seus filhos e netos, com uma rotina intensa de trabalho. São verdadeiros heróis em nossa sociedade, carregando um peso enorme.

Qual é o seu nível de Accountability?

Comentários no Facebook